segunda-feira, 10 de maio de 2010

beyond every truth there's an obsession

Num delírio, para todo o lado ela olha. Na insípida esperança de poder voltar a ter uma última tentadora conversa. Transparente a tudo o que a rodeia, os seus olhos não param. Obcecados apenas com uma e com uma apenas missão. As pessoas começam a notar o seu ar nostálgico e perguntam-se “ Mas porque raios?”.
Sentada num baloiço vermelho, num pequeno parque verde que transpira sossego. Ela baloiça e baloiça e baloiça, numa estúpida tentativa de se acalmar e começar a pensar racionalmente, mas é impossível parar com aquela busca. A sua vida tinha sido absorvida pelo momento. Só pensava numa coisa e numa coisa só pensava. Estava a começar maniacamente a pensar que a sua sobrevivência dependia daquele último encontro que tanto deseja.
De noite, mal deitava a cabeça na almofada, o seu subconsciente levava-a por uma das maiores produções existentes até á data na sua vida. Protagonizando essa grande peça sentia uma certa incerteza na realidade que aquela cena emitia.
“-Finalmente… - dizia num tom de satisfação.
-É não é? respondeu com um sorriso possessivo.
-Tenho dado em louca á tua procura. – baixando a cabeça, sussurrou mexendo nervosamente as mãos .
-Desculpa, simplesmente gosto que me procures. Sei que é algo que te magoa, mas é inevitável.
-Eu sei, daí estar sempre a perder-me. Acabando por voltar sempre para…
-Para mim. – interrompeu-a insolentemente e voltou a sorrir como se a sua alma prendesse na cave.
-Sim. Para ti. Tudo vai sempre dar a ti. Aquela esquina ali á direita, vai dar á rua onde nos vimos a primeira vez e aquela rua vai dar ao sitio onde costumávamos ir beber café e aquela aonde costumávamos ir ao cinema.
-É verdade, tens toda a razão. Parece uma maldição – disse num tom irónico e sentido.
-Pois parece. Tanto que me sinto presa a ti e não vejo maneira de me libertar. -concluiu inocentemente.
-
Esse é o problema. Nunca te irás livrar de mim… - respondeu-lhe prendendo-a nas suas palavras conservadoras.”
Tanta vez se tinha vindo a perder nos seus pensamentos idealistas atormentados pela certeza da sua dor futura causada pela pior doença sem cura que existe em todas as espécies, raças e cores. A conversa continuava durante horas e horas, como se dias passassem e ela não dava por isso porque o Sol se mantinha sempre pintado lá em cima. Intacto não adormecia e a Lua não acordava, como se hibernasse.
Repentinamente acordava para a vida com uma lambidela do seu gato, no pequeno nariz. Reclamava e reclamava e reclamava. Ter sido acordada tão manhosamente da melhor peça em que estivera até hoje. Naquele quadro o céu estava azul pintado com umas quantas nuvens solenes, a brisa harmoniosamente juntava todo o tipo de aromas e emoções que estavam a passar por ali naquele momento numa pequena poção infalivelmente demoníaca. O que ela mais estranhava, era o facto de gostar, de se sentir completa ao tomar aquela mistura. Fazia sentir-se meio atordoada, meio perdida para o mundo. Fazia parte duma brilhante jogada de xeque-mate. Sentia-se a viajar. Sentia que tinha vendido a sua adorada alma pudica ao diabo, sem sequer saber no que se estava a meter.
Quando se passeava pela rua, como um corpo morto sem nada lá dentro, depressivamente ria. Ria tão alto que os pássaros fugiam, pensando que fosse ocorrer algo sobrenatural. A sua garganta começava a fechar-se. A rouquidão, começava a atacar violentamente as suas cordas vocais, tornando-as frágeis como as cordas dum violino ou duma harpa.
Quando se passeava pelos corredores vazios, sentia a energia do que ali outrora se passara. “Saberá ela alguma vez no que se meteu?” Nem por isso, porque toda a gente caí nesta armadilha pelo menos uma vez na sua miserável e destrutível vida. Ela continua a sonhar com o papel que protagoniza naquela pintura em que o Sol ainda se mantém intacto naquele jardim onde crianças brincavam alegremente. Ela continua a pensar que vai conseguir. Ela simplesmente continua a jogar. Perdeu o seu caminho naquela ponte entre a realidade e o possível.