sábado, 25 de junho de 2011

Beyond Every Untitled Begining

           A noite estava a apagar-se. O escuro parecia tornar o breu numa simples ilusão no meio de tanta luz, a insanidade instalava-se no meu corpo. Os olhos abriam mas não viam, Alguém aí?!, gritava a voz rouca como o som duma espada na mão dum carrasco. Apalpava o chão de mármore adriático à procura de algo que nem fazemos bem ideia do que seja. As veias que lhe percorriam o pescoço saltavam à vista naquele retrato renascentista. A modernidade em que as suas pernas se mantinham, era tão subvalorizada. Com o vermelho a escorrer-lhe a face e a pintar-lhe o corpo mantinha-se agora na mesma posição que um torturado infiel.
                Os outros quadros não interessavam. Eram demasiado ilusórios para mentes tão brilhantes como aquelas. Oh sim compreendo perfeitamente o conceito que o pintor usou neste com os animais selvagens na casa, Sim sim eu também, a complexidade não é assim tão grande. Sim realmente meter animais selvagens dentro duma casa é o mais importante, esquecem-se pois da refeição que completava a paisagem. A luta entre quem é o chefe da cadeia, baseia-se na tentativa de exploração do artista entre quem sobrevive á tentação, não nas simples pinceladas, reclamava o curador da galeria nas costas dos dois bajuladores que tentavam enfiar-se nas minhas belas empregadas de escritório. Continuando. Do outro lado da sala, um casal bastante vistoso como brilhantes e purpurinas e tachas encandeavam com cada passo que davam. Loira, alta, com lábios grossos e musculados estava a Sr.ª, ao lado, achatado, quase sem cabelos para tapar a brilhante mente estava o Sr.º, ambos caucasianos e ricos como a galinha dos ovos de ouro. Se calhar devíamos comprar esta escultura, dizia uma velha com aquela voz fanfarrona e aguda, Quanto custa isto Menina?, São 5000€ minha senhora, Meu Deus, Já viram isto? Que roubalheira (desenhando a cruz com a mão) Jesus Cristo, Minha Senhora é o preço base poderia ser muito mais alto mas ninguém ofereceu mais, se fosse a si aproveitava, é uma bela peça. Sim, a Menina tem razão é uma bela peça sim. Muito bem mande embrulhar, onde faço o pagamento?, Na entrada, siga-me por favor, tão pomposa e ciente dos seus botões que foi tão bem roubada por algo que nem mais de 1500€ custava. Andamos aqui às voltas, como quando os miúdos andam com os patins na sala de estar. Bom passemos então á próxima sala. Ao andar começo a sentir o vento a bater-me nas pernas, depois no tronco, nos braços e agora na cara. Está frio cá fora, a noite ainda agora começou e já neva. Favoravelmente, nesta altura do ano as peles estão na moda tal como  o dinheiro nelas gasto. Realmente o impressionismo relativo ao calor que as peles produzem é uma boa razão para cometer um ou dois pecados imorais com uma ou mais peles. A cada passo que dava saltava de racha em racha, com medo de a partir num suícidio gélido. As lamparinas reinavam a noite e mantinham a luz ao fundo do túnel credível. Passámos por bares onde os tristes e infelizes vão apostar o resto dos seus ordenados naqueles cavalos que nada veêm e levam tudo á frente. Os néons ligados começavam a falhar e piscavam como os carros das emergências quando há um assalto ou alguém a morrer. Tem lume?, Porquê? perguntou com desaprovação e medo no olhar, Para acender o cigarro, deixei o meu isqueiro em casa. Muito bem, e então sacava de um dos seus excessos, o seu Zipper dourado com a bandeira americana na parte da frente e o número 438 na parte de trás e abriu-lhe o fogo. O estranho, por mais amigável que parecesse, no escuro emanava uma luz que a atraía, então ele levou o cigarro á boca e aproximou-se do lume. Inspirou, e as pequenas cinzas começavam a cair na neve que lhe cobría os sapatos pretos.

Expirou o fumo, Obrigada, Não tem que agradecer. E continuou a caminhar. O estranho ficou para trás, para mais tarde recordar a sua boa acção mensal. Ao aproximar-se de casa, meteu a mão na mala de marca e procurou as chaves, baixou uma das alças e espreitou lá para dentro numa busca infindável pelo que era practicamente impossível de encontrar numa mala de mulher. Sorte a nossa que era uma bolsa de noite, onde só cabia o telemóvel, as chaves, o batom, o espelho, o livro de cheques e umas poucas notas de 20€.

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